segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Disneybomba (Dia D)




As trombetas do apocalipse não tocaram quando o Pluto explodiu seu colete de dinamite na Disneylândia. O jovem que havia sido contratado para se vestir de Mickey ficou preso no abafado traje parcialmente derretido e grudado em sua pele. Ele cambaleou até os escombros do que sobrou da Casa dos Sete Anões, buscando por água. Após descolar os dedos do cadáver, de um dos sete figurantes anões, de um cantil de alumínio, o jovem trajado de Mickey tentou derramar o liquido por dentro do vão dos olhos para que escorresse até sua boca. Neste momento alguém se aproximou por trás. Uma criança, com a boca esfolada e vertendo sangue em abundância, segurava um revólver nas pequenas mãos, apontado-o para o Mickey.

"Você está sorrindo?"


Mickey tentou responder, mas sua garganta estava inchada e a língua seca, a voz falha produzia apenas um fino assobio.

"Meus pais morreram e você está sorrindo..."

O cantil se movimentava nervosamente na mão trêmula do Mickey.

"A Disneylândia matou meus pais?"

Outro assobio de voz, Mickey deu um passo para frente. A criança recuou.

"Eu quero saber por que você está sorrindo..."

A criança chorava, as lágrimas passavam pela bochecha chamuscada e se juntavam ao sangue. Mickey deu mais um passo e pisou em metade de um tronco de mulher.

“Você pisou na minha mãe!”

A criança ergueu a arma. Mickey retirou o pé do corpo da mãe da criança e se agachou lentamente.

“Mickey! Você tá dando risada. Você tá rindo da mamãe”.

A arma vacilou na pequena mão. Mickey largou o cantil e avançou novamente. A criança aprumou o revólver com mais firmeza. Mickey estancou à poucos centímetros do cano. Por cima da criança havia um policial empalado por uma viga de concreto. Mickey deduziu que a arma era real. A criança se enfureceu, soluçou e chorou copiosamente.

"A Disneylândia matou meus pais... Matou meus pais. Você tá dando risada."

A criança virou o rosto para o lado. Mickey sentiu que era a hora do disparo. Não sabia o que fazer. Ergueu as mãos. O Pato Donald despontou de um amontoado de brinquedos queimados, segurando uma espécie de gatilho. Neste instante, um zunido ecoou e a criança se partiu em vários pedaços, em seu lugar, tomou forma uma imensa bola de fogo que engolfou a sorridente grande cabeça de pelúcia do Mickey. Ele voou por alguns metros e antes de perder por completo os sentidos, viu o Pateta ajudando a Minnie a apertar outro colete de dinamite em seu peito. O sorriso da fantasia pegou fogo e, pouco a pouco, entortou em sinal de tristeza.

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