quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mano do céu - Favelamiomáquia.


Domingo - 14:00 - Morro da Bombinha Verde - Churrasco do Bolão.

"No samba ela me disse que rala..."

Parô, parô! Abaixa o som aê, Guevara.

Qual a bótica, Zidener? Parô pusq?

Bolão ergueu o triplo queixo enquanto virava o espeto de alcatra. Viu o pequeno alvoroço no meio da laje. A fumaça subindo forte.

A tia Hebe tá tribuchando no chão.

A tia Hebe tremendo e da boca a farofa  metralhada pro alto. Os caracóis alourados dançando no chão.

Chama lá o doutor médico, Pituzinho. Corre, caceta!

Afasta, irmão. Afasta.

Pastor Aparecido foi pisando e marcando território, de modo a abrir um circulo no contorno da tia Hebe.

Ela tá engasgada com os osso do frango, pastor.

Afasta, irmão.

Aguenta, que Pituzinho foi chamar ajuda.

O pastor ergueu a mão rija pro alto e desceu-a violentamente. Era seu sinal de silêncio. E a mulher agitando no chão chapeado de cimento.

Isso é demônio, irmãos.

Deus é maior, pastor.

Sangue de Jésu, tudo poderoso.

Dj Guevara ameaçou um rap das antigas mas cortou a função, tão logo Bolão lhe fez um sinal negativo.

Então, pastor, vai ti partir pra zap e sete copa na tia?

Vou, Bolão. Vou dar início ao ritual do exorcista poderosíssimo acaju.

Treze "Pai Nosso" e duas caipirinhas depois, o pastor juntou o material pro rito.

Falta o vinagrete.

Manda o vinagrete na mão do pastor, Pituzinho. Espera! Porra, Pitu! Tu não foi não buscar o médis?

Saca, véi, nem tinindo ele tava na goma, aí tal e pá, fiquei sabendo dos rolê na praia com altas gata em teto de zinco quente.

Saquei. Altas referências.

E todo mundo sacou e era muita sacanagem. Naquele momento no entanto, a medicina não salvaria uma pobre mulher possuída pelo escalão do inferno, como afirmou o pastor Aparecido.

E não só é belzebu, como conde Dooku e salsi fufu. Isso é influência da televisão.

Começa a bodega, pastor. Alcatra ressecada é de foder.

E Bolão tacou mais carvão.

Em nome do todo poderoso sangue de Jesus, do trono de Yeshua, parta dessa tia Hebe, dragão da inflação, boleto atrasado do inferno.

Girou de pé-dois o pastor, suando e gritando. Parou, pegou o vinagrete.

Olha que isso aqui tá muito bom, bééél zébius.

A possuída abriu meio olho negro Coala, farejou o ar e blasfemou pesadamente.

Cebolete, hijo de puta madre.

O pastor agarrou a panela com farofa, salpicou-a no ar, abriu a pitu, assustando Pituzinho, bebeu, cuspiu a pinga, misturando-a na farofa, que caía com leveza, e neste milímetro de segundo triscou um fósforo Guarany que materializou-se no seu polegar, como prova da divindade presente naquela churrascada, e a chama explodiu.

Bota o som de Deus, irmão Guevara, que a tia Hebe foi lavada pelo sangue do amor.

Aleluia, pastô.

"Sessenta e sete patine..."

E todos comemoraram chinelando a estrutura, com a tia Hebe deitada, verde limão da cara, recuperando-se do engasgo, toda sardenta da queimadura farofenta à qual sofrera.

Saiu fraldão suculento, gente familia, gente boa.

E Bolão, um brincalhão, um momo por natureza, brincou com o pastor enquanto girava uma corrente de linguiça apimentada.

Essa é do capetão. É tipo o inferno são os outros, pastor. HÁ há há.

O pastor, escolado na escola da bobice que era, sacou o trezoitão.

By the power of Rá.

Fim de domingo.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Jodô e Mabel


Mabel, perquê jogas alfajor no rio?


Oui, Jodô. Escute-me!


Pois que sim.


Au revoir, Alfajor!


Au revoir, Alfajor!


Au revoir, Alfajor!


Au revoir, Alfajor!


Há pessoas como tu, Mabel. Poetas in loco.


Oui, Jodô. Se diz...


Não crê desperdiçar?


Oui, monsieur. Apenas estes.


Posso?


Oui, monsieur.


Au revoir, Alfajor.


Que sentes?


Vamos no caminho, comprar mais alfajor.